Quando a Ceia de Natal se Completa, prose by J. Maciel Costa at Spillwords.com
Katie Azi

Quando a Ceia de Natal se Completa

Quando a Ceia de Natal se Completa

written by: J. Maciel Costa

 

Não o leias, “lê-o”.
Toma-lhe o ritmo, ouve-o pulsar, usa a batida do teu coração.
Deixa que ele te tome, que vá exacerbar o sentimento que possa ter. Se sentires aquele nó… vai com ele, voga. Tenho esta idade toda e comecei a ameninar. Agora dei nisto. Consigo escrever mas não aguento ler-me.

***

Tenho esta idade toda e continuo a aprender.
Ainda assim, parte de nós é imutável. Existe muito de nós que não se vê no entanto ê muito do que, na verdade somos. Somos como uma flor branca que vive, cresce e floresce e mesmo que polinize, é sempre branca é sempre flor.
Naquele dezembro já não era um menino.
Grande distância tem um dia.

***

Levantei-me pensando conhecer um mundo, o meu imaginado mundo.
Deparei-me cedo com estilhaços desse mundo. Um outro se ergueu, mais acertado, mais pensado; espatifei-me de encontro a ele.
O que é bem pior, causava-te dor, renúncia a anseios teus, a promessa de uma promessa que cumpririas (já tão só). Não haverá dor maior.
E eu que me havia levantado sem me aperceber de ti, apenas me via animado, feliz e contente: egoísta!!
Nesse dia… falaste da realidade. A tua realidade que é a que mais conta. E vi-me feio.
Queria o bálsamo do teu doce olhar, a cura no teu corpo e eu sem nada para dar… Nem indulgência me atrevo a pedir, não se perdoa quem tanto erra.

– Que queres para a consoada? – Quis saber. E ela num fôlego …Crês que já perdi o pai, que não tenha mãe. Andas perto, são os meus amores que nada têm, quem um dia decidiu fazer-me crescer ausente, quem não vê o arco-íris por olhos rasos de água. E não me têm com eles, ou eles se querem comigo. Cuidam que assim me aliviam. Dão-se a desconforto para meu conforto…

A voz plangia.
E seguia…o diploma que ali dependuro e que a ti me levou é fruto dum outro amor. As letras que alinha são couro ensebado, a pontuação buracos de sovela, carimbos e selos que ali estão, os calos do artesão; o rendilhado que o borda nasce dum pregão – quem quer fiiiigos quem quer almoçarrrr(!?)) – e o mel desses figos equivalem na porção ao fel da vida que a mãe tem.

De tudo isto quis saber mais, e tudo isto quis saber de mim.
Então saí em demanda, em missão… e via-te. Ainda que mal. Via-te a sumires, a perder a cor no quadro que de ti fiz. Tive medo de ter andado a usar aguarelas erradas, daquelas que à mais leve variação de luz perdem o tom, esmaem, tendem para a ausência de cor.
Agora, deste-me tamanho, movimento, atenção… acção

Vivi muito e posso não ter sido bom, mas era essa a intenção.
Hoje sei que há coisas que nem acabam nem começam num só dia.

– Quero os meus pais. – Pediste.
Dei.

Nessa ceia fomos quatro… e um pranto!

J. Maciel Costa

J. Maciel Costa

Writing is a childhood pleasure. I have been a manager, economist and teacher all my professional life. But... the pleasure for writing, the bitterness of had been robbed of my sketches of literary works, led me to return to writing and editing some of the literature that, in my hours of leisure and most joy, I write.
J. Maciel Costa

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